terça-feira, junho 15, 2004

Direitos Humanos Têm Tratamento Secundário na Comunicação Social

Notícia do Público

Colóquio denuncia falta de aposta por razões comerciais e de audiência

A comunicação social tem um papel importante na mobilização para as questões da ajuda humanitária e direitos humanos, mas esse papel sofre limitações de vária ordem. Quais? A grande tendência dos portugueses para se preocuparem com o que lhes é próximo em detrimento de questões internacionais, as prioridades comerciais das empresas jornalísticas ou a falta de formação de jornalistas e da população em geral para estes assuntos.

Esta a leitura geral que se pode fazer do colóquio "O Papel dos Media na Mobilização da Sociedade Civil para a Ajuda Humanitária", que decorreu ontem à tarde no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), em Lisboa, e onde o vice-presidente da Secção Portuguesa da Amnistia Internacional, José Miguel Costa, lembrou que foi uma notícia sobre dois estudantes portugueses que tinham sido presos por terem gritado "Viva a liberdade", na via pública, em Lisboa, publicada no jornal inglês "The Observer", que levou ao nascimento desta organização não-governamental, em Londres, em 1961.

José Miguel Costa diz que há casos que na comunicação social são "preteridos em relação a outros por uma questão de moda" e considera que a ajuda humanitária e os direitos humanos têm "pouca saída" nos jornais portugueses. "Sobretudo nos jornais diários, em Espanha vêem-se muito mais notícias" sobre questões ligadas aos abusos desses direitos. "Pode ser devido a falta de formação em matéria de direitos humanos na população portuguesa", disse, acrescentando que em Portugal "há uma visão mesquinha que leva a que o que nos preocupa seja aquilo que nos está próximo".

O jornalista da "Visão" Henrique Botequilha, que acompanhou o caso de Timor-Leste, disse que a questão de haver modas nos temas de direitos humanos é uma questão que tem a ver com as agendas das empresas jornalísticas, "que são muito mais 'empresas' do que 'jornalísticas'". Henrique Botequilha considera que os temas humanitários são um bocado vítimas disto, e lembrou que o caso de Timor não teria a repercussão que teve se não fossem as imagens do massacre no cemitério de Santa Cruz.

"Há uma falta de aposta dos meios de comunicação social nos assuntos ligados às questões humanitárias e direitos das mulheres", disse por seu lado Sofia Branco, jornalista do PÚBLICO.pt que recebeu vários prémios por trabalhos sobre mutilação genital feminina na comunidade guineense em Portugal. "Há espaço, mas se for preciso é o primeiro assunto a cair para entrar publicidade", acrescentou, dizendo ainda (tal como José Miguel Costa), que sente a sua inteligência insultada pelos noticiários das estações generalistas de TV.

Paulo Miguel Madeira

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